A chegada da pandemia de covid-19 trouxe com ela a necessidade de ocupar a mente, pelo menos para boa parte da população. A dona de casa Catarina de Arruda, 65, é uma das muitas pessoas que, viram na crise, uma oportunidade de aprender algo novo.
Nascida em Acorizal (62 km ao norte de Cuiabá), Catarina revela, em entrevista a Gazeta Digital, diz que chegou a Várzea Grande pela primeira em 1979, carregando na mala o desejo que o pai tanto almejava para ela, o de ser professora. Ela relembra que passou boa parte da adolescência sem estudar, apenas cuidando dos afazeres domésticos na casa dos padrinhos. “Eles não queriam que eu estudasse à noite porque senão eu ia arrumar namorado”, narra a dona de casa, com um sorriso sem jeito.
Interessada por Administração de Empresas, Catarina conta que optou por deixar a própria vontade de lado e seguir o sonho do pai para ela, apesar de não ter vocação para ser professora, por ser introvertida, como ela mesma afirma.
Após a morte do pai, se mudou para Rosário Oeste (128km ao norte de Cuiabá), buscando se dedicar aos cuidados da mãe. Na pacata cidade do interior de Mato Grosso, se sentia como um peixe fora da água ao comandar uma sala de aula. Foi quando optou por dar aulas particulares de língua portuguesa em casa, ao mesmo tempo em que atuava como manicure. “Ou era polícia ou professor”, relembra Catarina, sobre as opções para quem morava em Rosário Oeste na década de 80.
Então, em 1995, ela volta para Várzea Grande, agora casada e com uma filha. Sempre introvertida, Catarina criou Valquiria, sua única filha, o oposto da mãe. A dona de casa lembra uma situação onde levou a filha, ainda criança em uma unidade de saúde e em um momento de descuido perdeu menina de vista. “De repente entramos na sala de espera e estava todo o pessoal sentado ao redor e a Valquíria no meio, contando caso pra eles”, descreve Catarina ao narrar o interesse da filha em se expressar.
A família tem o primeiro contato com o artesanato, quando a filha de Catarina, aos sete anos de, decide aprender ponto cruz – forma popular de bordado onde os fios possuem formato de X-. Neste momento, ela interrompe a reportagem para procurar uma das primeiras peças feitas pela filha, uma toalha de rosto com o nome “Valquiria”. “Ela bordava e vendia por cinco reais”, relembra Catarina, que conta que a menina, inspirada por ela, começou a fazer a unha das vizinhas para ganhar seu próprio dinheiro, ainda cedo.
Hoje, com 28 anos, Valquiria é jornalista e vive na Irlanda e, para suprir a saudade da mãe, levou uma de suas criações para fazer companhia. A boneca, que leva o nome de Kate, tem traços que lembram Catarina, apelidada de Kate anos atrás. O carinho especial pelo brinquedo é compartilhado por mãe e filha, sendo essa a única de muitas bonecas feitas por Catarina a ter nome.
A dona de casa narra ao que, após trabalhar em uma loja de confecções, como auxiliar de costura, guardava os retalhos de tecido que sobravam para criação das primeiras bonecas. “Nunca tive boneca na minha vida e sempre fui apaixonada por boneca. Minha boneca era de sabugo de milho” recorda Catarina, que começou a produzir as primeiras bonecas de pano manualmente, aos 40 anos.
Então, em 2019, Catarina decide fazer um curso de corte e costura. Após dois semestres, o curso foi finalizado e, com ajuda de familiares, adquiriu a máquina de costura que utiliza atualmente na produção das bonecas.
Com a chegada da pandemia, recebeu sua primeira encomenda, de costura, as tão procuradas máscaras de pano, que se mostravam mais eficazes no combate à disseminação do coronavírus. Através do trabalho com máscaras, conheceu a responsável que lhe deu aulas de produção de bonecas de pano.
Aprimorando as técnicas de costura e colocando em prática a criatividade e o conhecimento técnico, a dona de casa passou a realizar em casa a produção das bonecas, desde os moldes, cabelos, até os vestidos de muitas cores e estampas.
Com divulgação nas redes sociais, os valores da boneca variam de R$ 80,00 a R$ 255,00, de acordo com a complexidade de produção ou tamanho.
Fonte: GazetaDigital